Personalidades Marcantes

 

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Em 1984 a demanda reprimida de pessoas com necessidades especiais na nossa cidade era muito grande, e só contávamos com três instituições que prestavam cuidados a essa clientela.

Eu estava recém-formada, cheia de sonhos e ânimo. Trabalhava em uma dessas instituições e a vontade de dar oportunidade para aquelas crianças e jovens poderem alcançar o máximo que os limites das suas condições de saúde permitiam era grande. E saber das enormes filas de espera que suas famílias enfrentavam para conseguir uma vaga em uma daquelas instituições me inquietava.

Juntamente com outros colegas que trabalhavam comigo nessas instituições, e movidos pelo mesmo sonho e desejo, tomamos a iniciativa de reativar a APAE na nossa cidade.

Assim, formamos uma força tarefa através de um “grupo reativador” da APAE.

A associação já existia desde 1967, ano da sua fundação, mas ficou desativada desde 1974. Acreditávamos assim, que o trabalho da força tarefa estaria reduzido, pois, a documentação da instituição já existia, sendo necessário a sua reativação frente aos cartórios. Contudo, íamos nos deparando com outros enfrentamentos.

Era necessário a constituição de uma Diretoria Executiva, a qual seria a mantenedora e gestora da Associação.

Procuramos nos articular com algumas pessoas da cidade que tinham filhos com necessidades especiais para compor a referida Diretoria, mas, não contamos com o interesse desses. Nenhum de nós do “grupo reativador”, erámos pai ou mãe de uma pessoa com necessidade especial. Então Precisávamos de pessoas que fossem sensíveis à causa e que gozassem de influencia e representatividade na cidade.

Conversei com meu pai, Normando Alves Barreto, sobre a proposta, pois, ele era uma dessas pessoas influentes e que conhecia muitas pessoas na cidade. Meu pai prontamente abraçou a ideia. Assim, fomos à busca desses parceiros, e juntamente com outros empresários e amigos, ligados a Loja Maçônica Harmonia Luz e Sigilo, formou-se a Diretoria Executiva da APAE.

Mas, precisávamos de recursos financeiros, pois nada tínhamos. O “grupo reativador” era formado por voluntários que doavam seus serviços nos atendimentos às crianças e jovens que iam ingressando na Associação. Cada Diretor colaborava com uma mensalidade e as famílias com o que podiam. Mas, os recursos ainda eram escassos. Partimos então para buscar novos sócios mantenedores para a Associação.

Eram feitas várias campanhas para captação de sócios, vendas de comidas em barraquinhas no centro da cidade, nos juntamos a agências de marketing, a grupos de senhoras que promoviam bazares na cidade para doar para as Associações, a imprensa em geral, e assim a batalha para divulgar e sensibilizar a sociedade para atrair pessoas que somassem a causa foi grande.

Iniciamos as atividades da Associação numa casa alugada no Bairro Ponto Central. Articulamo-nos com outras entidades como a APAE de Salvador, e a Federação Nacional das APAE’s, buscando agregar apoio no sentido de nos orientar de como arrecadar fundos para manter as atividades da associação.

Conseguimos um convênio com a então Telebahia, para recuperação de carcaças telefônicas, uma atividade profissionalizante, na qual os alunos eram treinados para recuperar essas peças, e associação e os alunos eram remunerados por isso.

Passado um período, a Associação mudou-se para um espaço mais em conta e que encontrava-se ocioso nas dependências da Clínica Neofisio, na Rua Comandante Almiro. Uma clínica na qual, alguns membros do “grupo reativador” exerciam seus trabalhos profissionais.

Nesta fase o “grupo reativador” foi ficando reduzido. Alguns membros não puderam mais continuar o trabalho voluntário, bem como outras razões pessoais. As demandas da Associação cresciam. Aliás, esta era a maior dificuldade da APAE de Feira de Santana, e certamente de muitas outras entidades sociais: primeiro acolhe a demanda, para depois ir em busca dos recursos para mantê-la. Não sabíamos dizer: “não há vaga”! Não suportávamos ver o sofrimento da demanda reprimida! Acolhíamos a todos.

Foram firmados Convênios com a Prefeitura Municipal e o Estado na área de educação para sessão de professores. E estávamos na batalha também para que a Associação firmasse convênio, com a então LBA (Fundação Legião Brasileira de Assistência), e assim fosse remunerada pelo número de atendimentos de reabilitação às crianças e jovens assistidos pela mesma.

Felizmente, o convênio foi liberado, e junto com ele, foi exigido várias mudanças, tanto de ordem estrutural, como de pessoal, para que a APAE pudesse firmá-lo.

A APAE foi então transferida para um espaço maior e mais adequado, cedido pela Loja Maçônica Harmonia Luz e Sigilo, onde já havia funcionado uma escola.

Nesse momento, por questões pessoais, eu precisei me afastar da linha de frente da Associação. Meu pai convidou então, a nossa amiga Mary Makhoul, proprietária da Clínica Neofisio para somar a continuidade dos trabalhos da Associação.

Nesse interim, foi doado pela Prefeitura Municipal, pelo então Prefeito Colbert Martins da Silva, um terreno na proximidade do Centro de Abastecimento.

Logo que foi possível, após 3 anos, retomei o trabalho na APAE, quando foi liberado uma verba federal para a construção da sede própria, no terreno cedido pela Prefeitura, através do Ilustre dr. José Falcão da Silva.

Outra fase se iniciava. Com a nova construção outros enfrentamentos, e outros desafios, até que foi possível a mudança para a sede nova.

A entidade continuava crescendo em número de pessoas e famílias assistidas, e ganhando legitimidade à frente da população de Feira de Santana. Ia se tornando pioneira em várias modalidades de atendimento, sendo reconhecida nas 3 esferas governamentais, e tendo a necessidade de seguir ampliando seu quadro de técnicos, promovendo e articulando ações de defesa de direitos, prevenção, orientações, prestação de serviços e apoio à família, sempre direcionadas à melhoria da qualidade de vida da sua clientela.

E o propósito a ser perseguido desta vez, era o convênio com o SUS. E quando se tem um propósito, e se coloca todas as forças e energias, todas as dificuldades e obstáculos são superados para que se consiga atingir o objetivo. Assim, mais uma vez a APAE conseguiu!

Em 2008/2009, muita coisa acontecia na minha vida pessoal, e eu precisava tomar a decisão de abrir mão de alguma ocupação que exercia na época. Já não estava mais sendo possível conciliar os diversos papéis que eu exercia. Sentia que um ciclo precisava ser fechado. E na vida tudo tem seu tempo para começar, durar e terminar. Foi quando decidi sair dos trabalhos da APAE. Foram 25 anos dedicados à Associação, e foi muito difícil para mim essa decisão. Mas, era necessário e Deus me deu a sabedoria, o equilíbrio e o discernimento certo, na hora certa. Quando insistimos em permanecer numa etapa que já chegou ao final, corremos o riso de perder a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver!

Aprendi muita coisa nesta passagem. A APAE me ajudou a ser, um ser humano melhor a cada dia. Aprendi que quando nos concentramos no que podemos aprender com os desafios, e na maneira como os utilizamos para agregar valor às vidas dos outros, podemos transformar qualquer adversidade em vantagem! Sou Terapeuta Ocupacional, e foi através desta profissão que assumi a APAE. Era uma profissional da reabilitação. Contudo, na APAE jamais exerci a minha profissão. Precisei exercer a arte de “administrar uma empresa”. Meu conhecimento sobre administração era zero. Mas, a vontade, e o propósito me diziam que, sempre há uma maneira, quando você tem uma motivação. E assim, com humildade, enfrentei os desafios. Aprendi que primeiro precisava garantir o custeio, para depois assumir as demandas. E que receita e despesa precisavam ser equilibradas. Tornei-me apta a ser gestora de outras empresas.

Como acontece com tudo, obviamente minha passagem na APAE não foi diferente das demais. Tivemos fases boas, felizes, assim como momentos tristes de dificuldades, os quais foram vividos e superados, permitindo sempre chegar ao término de mais uma etapa vencida.

É importante falar nesse breve relato, sobre as pessoas que estiveram comigo durante esses anos. E graças a Deus foram muitas. As quais peço licença e perdão para não citar nomes e não ser injusta com nenhuma delas. Todas foram de vital importância na minha passagem pela APAE. Fomos parceiros. Fomos responsáveis pela ação e pelo resultado do outro. Sorrimos, brigamos, divergimos, sofremos, e comemoramos muitas vitórias. Ninguém atingiu nenhum sucesso na APAE sem a participação e o envolvimento do outro.

Contudo, não poderia deixar de registrar duas pessoas: Mary e meu pai Normando.

Mary foi o anjo que Deus colocou na vida da APAE e de meu pai, que era o presidente na época em que eu precisei me afastar temporariamente da Instituição. Ela vestiu a camisa da Instituição, e se dedicou com todo empenho possível e impossível, dando continuidade aos trabalhos da causa Apaena até os dias atuais.

Meu Pai foi a minha grande parceria e, com muito orgulho, afirmo que foi o maior parceiro que a APAE já teve!  Desde o início foi aquele que sempre acreditou e apoiou todos os projetos, esteve ao lado de todos na realização de cada sonho. Ele nunca quis desistir, ou passar o bastão. Quando não foi mais possível assumir a presidência, por questões regimentais, ele sempre ficou ao lado do então presidente. Sempre presente. A APAE foi uma grande paixão na vida de meu pai. E a ele, e em nome dele, eu dedico toda a nossa gratidão!